03 dezembro 2005

 

a "conta de chegar" de Delfim Neto
21/03/2003


"Por mais inconformados e tristes que fiquemos, não há como escapar da tragédia aritmética imposta pela igualdade da taxa de juro real interna e externa exigida pela insuperável necessidade de continuar a obter financiamento para manter a economia funcionando. Ela se expressa, aritmeticamente, assim: Taxa de juro interna = Taxa de juro externa + Risco Brasil + Expectativa da desvalorização cambial. A taxa de juro externa é dada (4% ou 5%) e o risco Brasil é hoje da ordem de 11% a 12%."
Delfim Netto - 19/03/2003

as contas externas do Brasil são liquidadas em dólares, que só podem ser obtidos através de exportações, empréstimos ou investimentos externos.

quando o saldo comercial - diferença entre exportações e importações - não é suficiente para fechar as contas externas, incluindo pagamentos de juros e remessas de capitais, é necessário recorrer a empréstimos ou atrair investimentos.

resolver o déficit externo com empréstimos conduz ao seu progressivo agravamento, já que os juros acabam por incidir no próprio déficit, gerando um círculo vicioso.

resultado análogo ocorre com os investimentos externos, porque para aplicar seus recursos os investidores exigem taxas de juros elevadas, posto que seu objetivo é rentabilidade e não o desenvolvimento do país.

desta forma, a economia se subordina aos interesses do capital externo, em grande parte especulativo, e os dólares que entram no país não são investidos na produção, e sim em aplicações financeiras.

a única opção de fato viável é o aumento do superávit comercial.

numa economia dependente do capital externo, a necessidade de remunerar o investimento externo tende a fazer com que a taxa interna de juros (dos títulos do tesouro Brasileiro, em reais) se torne equivalente à taxa externa ( dos títulos do tesouro dos EUA, em dólares) ajustada à mesma moeda e ao mesmo patamar de risco de crédito do emissor.

a taxa interna corresponde à taxa externa mais a expectativa de desvalorização cambial no período e mais o prêmio de risco-país.

o risco-Brasil é calculado pela diferença entre o retorno de um título brasileiro no exterior ( C-Bond, por exemplo ) e um título equivalente do tesouro Norte-Americano.

a desvalorização esperada corresponde à variação entre a taxa cambial à vista e a taxa cambial esperada para daqui a um ano.

a taxa de juros básica da economia Brasileira está fixada hoje em 26,5%, enquanto nos EUA a taxa básica é a Federal Funds, em 1,25%.

tomando a variação cambial sugerida por Delfim Netto ( R$ 3,30 / R$ 3,60 ), a Federal Funds e um risco-Brasil atual de 1.100 pontos, tem-se uma taxa interna de 22,60%, inferior aos atuais 26,50%.
Delfim Netto tira da cartola uma taxa externa de 4% a 5%, fazendo uma "conta de chegar" para justificar a atual taxa interna de juros.

por mais tristes e inconformados que fiquemos, não há como escapar desta tragédia, a não ser rompendo com esta equação que não expressa nenhuma igualdade entre os termos e mantém nossa economia funcionando como exportadora de capitais.


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