05 dezembro 2005

 


dormindo com o inimigo
25/08/2003
( sobre "O Inimigo Principal", de Wladimir Pomar )


Há um fenômeno que parece recorrente na história da esquerda brasileira: parte das próprias forças se transforma em forças inimigas, principalmente em função de interesses escusos.

Lendo boa parte da produção recente de textos e cartas de intelectuais e ativistas da esquerda, em geral petistas, nota-se a fanática insistência com que eles defendem o PT e Lula, não só devido a um certo masoquismo da esquerda, como por sua atávica incapacidade de assumir prontamente os próprios erros.

No esforço de demonstrar o acerto dessa atitude, recorrem até a Marx e Lênin. Infelizmente, no caso de Lênin, omitem que seus equívocos políticos e econômicos foram o ovo da serpente do Gulag soviético. Não é sem motivo que, em seu tempo, ele foi chamado de traidor por fazer a paz com a Alemanha, contra os que pretendiam dar amplitude mundial à revolução. Não dizem também que ele esmagou impiedosamente a insurreição dos "companheiros" anarquistas, enquanto apelou ao apoio de setores da burguesia russa e internacional para levar adiante a Nova Política Econômica - NEP, um enorme recuo estratégico (não só tático) em relação aos objetivos que a revolução tinha se proposto.

Para completar, também não se deve esquecer que Lênin sofreu um atentado realizado pelos "socialistas revolucionários", e não pela direita russa, que o considerava como "parceiro confiável".

Nesse sentido, a história puniu exemplarmente Lênin, e não apenas em relação aos seus recuos estratégicos e táticos, entre 1918 e 1921. Jamais a Rússia se tornou socialista, convertendo-se num repulsivo regime autoritário que findou caindo de podre, resultando em desmoralização a nível mundial das "bandeiras da esquerda".

Assim, um dos aspectos universais dessa experiência consiste em que é um erro não reconhecer quando parte das próprias forças se torna inimiga, sob o argumento de se tratar meramente de discrepâncias em torno da tática, ou mesmo de recuos estratégicos relacionados com a correlação real de forças. Toda vez que isso ocorreu, a esquerda foi derrotada. Talvez seja útil refletir sobre tudo isso toda vez que um passional apoio ao governo Lula ofusque o raciocínio e impeça de considerá-lo como inimigo.


"Se o petismo não estiver minimamente preparado para isto [ a retomada do movimento social ], poderá ocorrer com ele o mesmo que ocorreu com a velha esquerda e seus dogmas na segunda metade dos anos 70, atropelada tanto pela reciclagem da ditadura de classe da burguesia como pelo novo sindicalismo e pelo novo movimento popular que se fundiram na criação do PT. Em vez de disputar a hegemonia com vantagem para chegar ao poder, terá que correr atrás do prejuízo para não ser varrido ou ananicado, como o velho partidão comunista."

"Um mundo a ganhar"
Wladimir Pomar

O inimigo principal
Wladimir Pomar

Há um fenômeno que parece recorrente na história da esquerda brasileira: transformar parte das próprias forças em forças inimigas, principalmente em função de divergências táticas. Lendo boa parte da produção recente de textos e cartas de intelectuais e ativistas da esquerda, em geral petistas, nota-se a rapidez com que eles tomam o PT e Lula como inimigos principais e alvos, não só de suas frustrações, mas de sua ira. Em grande parte dos casos já não se trata de discordâncias pontuais, mas da oposição entre "nós" e "eles".

No esforço de demonstrar o acerto dessa atitude, recorrem até a Marx e Lênin. Infelizmente, no caso de Lênin, muitos se esquecem que ele venceu uma revolução, não uma eleição. Omitem que, em seu tempo, ele foi chamado de traidor por fazer a paz com a Alemanha, contra os que pretendiam dar amplitude mundial à revolução. Não dizem que ele se viu obrigado a esmagar a insurreição dos "companheiros" anarquistas, que o tomaram como inimigo. Nem que teve de apelar, logo após o esgotamento do "comunismo de guerra", ao apoio de setores da burguesia russa e internacional para levar adiante a Nova Política Econômica - NEP, um enorme recuo estratégico (não só tático) em relação aos objetivos que a revolução tinha se proposto.

Para completar, também não se deve esquecer que Lênin morreu prematuramente em conseqüência dos ferimentos de um atentado realizado não pela direita russa, mas pelos "socialistas revolucionários", que se consideravam a "verdadeira esquerda". Ou seja, se queremos apelar aos clássicos, é sempre útil, como ensina a história, contextualizar o que eles disseram e medir os resultados práticos, já que a maior parte do que afirmaram ou escreveram somente foi válida para situações históricas particulares.

Nesse sentido, a história deu razão tanto à audácia de Lênin, ao aproveitar a situação revolucionária russa, em 1917, para conquistar o poder, quanto aos seus recuos estratégicos e táticos, entre 1918 e 1921, tendo em vista a situação real da Rússia e a correlação de forças internacionais. E aqueles que o tomaram como inimigo principal somente conseguiram aumentar as dificuldades com que se defrontava o novo poder.

Assim, um dos aspectos universais dessa experiência consiste em que é um erro tomar como inimigos parte das próprias forças e os amigos e aliados, em virtude de discrepâncias em torno da tática, ou mesmo de certos recuos estratégicos relacionados com a correlação real de forças. Toda vez que isso ocorreu, os verdadeiros inimigos principais é que se aproveitaram para derrotar a esquerda. Talvez seja útil refletir sobre tudo isso toda vez que nossa discordância com o governo Lula acender a tentação de considerá-lo como inimigo.

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