06 dezembro 2005

 


o "nosso" governo
05/10/2003
( sobre "Declaração de Voto", de Wladimir Pomar )


a medida em que, lamentavelmente, o Governo Lula se afirma, em sua prática, como o 3º mandato de FHC, vão se reduzindo as justificativas da parcela da Esquerda que ainda teima em defendê-lo.

então, chegamos ao argumento definitivo : "mesmo que fosse contra todas as políticas do Governo Lula, ainda assim seria a favor dele."

mais do que esquizofrenia política, tal linha de raciocínio se constitui num grave problema de ética. Não importa que o "nosso" governo tenha uma prática contrária aos "nossos" interesses, ainda assim é o "nosso" governo e cabe a "nós" defendê-lo a todo custo até o último instante.

do mesmo modo que a elite dominante Brasileira nunca teve um projeto para o país, e sim para si própria, o Governo Lula sofre do mesmo mal.

por isto é um erro falar em tática e estratégia, no sentido amplo, em relação a um governo cujo foco é a manutenção de sua condição de governabilidade, de forma a assegurar que seus membros permaneçam na estrutura de poder.

e nisto não há novidade alguma. Posto que a corrente dominante dentro do Governo Lula tem feito exato o mesmo no âmbito interno do PT, colocando não só o partido, como até o movimento social, a serviço de sua hegemonia.

assim sendo, considerar como "concessões táticas" a capitulação voluntária do Governo Lula ao neoliberalismo é não compreender o que há de mais específico na natureza deste governo: sua completa falta de pudor em lançar mão de qualquer meio que viabilize sua continuidade enquanto governo.

resta saber se os 52 trabalhadores rurais assassinados durante o Governo Lula, até o momento, também devem ser computados no rol das "concessões".

seja como for, fazer concessões com a vida alheia, assim como com o destino de uma nação inteira, não é apenas um tanto conveniente como absolutamente repugnante.

a esperança dos milhões de eleitores de Lula rapidamente está se convertendo em frustração, nojo e revolta. Em vez de exaurimos nossa melhor energia na defesa do indefensável, é bem mais produtivo começar, desde já, a construir uma alternativa para quando sobrevier o inevitável.

uma derrota do Governo Lula não implica necessariamente no fracasso daquilo que o tornou possível, e que, em hipóteses alguma, a ele está limitado.

temos um mundo a ganhar. Cabe a nós não por tudo a perder.

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